A Azul, terceira maior companhia aérea do Brasil, anunciou nesta segunda-feira a fusão com a concorrente no segmento de aviação regional Trip Linhas Aéreas. O negócio dará origem à holding Azul Trip S/A, para a qual serão aportadas as ações de ambas. A nova empresa do mercado brasileiro tem projeção de receita conjunta de mais de 4 bilhões de reais somente neste ano. Juntas elas terão 15% de 'market share' , 8.700 funcionarios, 112 aeronaves e 96 destinos. Não houve divulgação, contudo, do valor total da transação, nem das estimativas de sinergias.
A Azul – fundada pelo empresário David Neeleman, quem tem nacionalidade brasileira e americana – será dona de dois terços da nova companhia, ao passo que a Trip deterá o capital da terça parte restante. A operação não envolve aporte nem saída de recursos financeiros. "Um dia podemos abrir capital, mas, por enquanto, não precisamos. Temos caixa suficiente", afirmou Neeleman.
As marcas atuarão de forma independente até a aprovação do negócio pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pela Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Além das bandeiras, também os registros ficam separados. Somente após as autorizações dos dois órgãos, os executivos discutirão a possibilidade de atuar com marca única.
De acordo com os executivos das duas empresas, o negócio não envolveu recursos, apenas troca de ações das duas companhias, que serão as acionistas de uma holding, batizada de Azul Trip SA. Espera-se que a holding fature R$ 4,2 bilhões ainda neste ano e atender quase 100 cidades brasileiras.
A fusão entre a Azul e a Trip faz sentido para muitos analistas. Há pouca sobreposição de voos nas duas companhias – ou seja, são poucos os destinos onde as duas operam, existe um potencial ganho de escala, além de um melhor aproveitamento de uma estrutura unificada de administração e vendas. O ponto mais importante, no entanto, pode estar na escolha das duas companhias no estilo de avião que usam.
Há uma diferença fundamentalna forma como ao menos Trip e Azul fazem isso em relação às duas líderes. Ambas voam com aeronaves da francesa ATR e jatos regionais da Embraer, aviões menores e com menor consumo de combustível que os jatos da Boeing e da Airbus da frota de TAM e Gol.
Segundo Jorge Barros, ex-piloto de Tucanos da FAB e consultor da NvTec Consultoria e Treinamento, em rotas curtas, aviões turbo hélice consomem menos que aviões a jato. Quanto, exatamente, é difícil dizer, sem ter informações sobre o desempenho de cada modelo. Mas a lógica do cálculo é relativamente simples: quanto mais alto e mais rápido se voa, menor o consumo por milha voada. Para cobrir pequenas distância, em rotas inferiores a 1 mil quilômetros e mais parecidas com uma parábola, não vale a pena nem subir nem acelerar muito. E aí, aviões menores, turboélice, são vantajosos. “Imagina ir trabalhar todo dia com um ônibus só seu. É melhor ir de fusquinha”, afirma Barros.
Mas, para o ex-militar, a economia do combustível é apenas parte da equação. O perfil das aeronaves usadas pelas duas companhias sugere, em sua avaliação, a intenção de aumentar a capilaridade com a exploração de rotas de menor densidade de passageiros. “Os aviões de asa alta, como os ATRs, permitem pousar em pistas de grama ou cascalho, sem estragar o motor”, diz. É por essa razão, explica, que muitos aviões militares de transporte tem configuração parecida. Por fim, há ainda a questão dos ganhos de escala com equipes e equipamentos de terra em aeroportos pequenos. “É algo que, de modo geral, as companhias aéreas buscam nas fusões”, diz.
Ainda é cedo para saber se a união das duas empresas vai criar, de fato, uma terceira força para romper o duopólio que rege a aviação civil brasileira. Apesar de estarem perdendo espaço antes as menores – as duas, juntas, perderam seis pontos percentuais de participação em um ano -, TAM e Gol ainda são muito fortes. Juntas elas detém 74,7% do mercado interno.
Mas, sem dúvida, em um mercado tão concentrado, Azul e Trip juntas são mais fortes do que separadas.
Não estao previstas demissões nem desativação de aeronaves. "Pelo contrário, queremos comprar mais aeronaves e contratar. Diferentemente da Europa e dos Estados Unidos, onde [as aéreas] precisam se fundir para não quebrar, aqui temos muito mercado a explorar – ainda mais com a classe C em aeroportos regionais", afirma Pedro Janot, presidente executivo da Azul.
O atual presidente do conselho de administração e fundador da Azul, o empresário David Neeleman, presidirá o conselho administrativo da resultante da fusão. O órgão contará também com os executivos José Mário Caprioli, que hoje preside a Trip; Renan Chieppe; presidente do conselho de administração da mesma empresa; e Decio Chieppe, também membro e diretor financeiro do Grupo Águia Branca. As outras sete cadeiras do conselho ficarão a cargo da Azul – uma delas a do próprio Neeleman.
Caprioli coordenará o processo de integração das duas empresas aéreas por meio de um comitê do qual estará à frente.
Neeleman, em entrevista coletiva na capital paulista, afirmou que o "namoro" entre Azul e Trip já dura mais de dois meses. Somente nas duas últimas semanas, contudo, que o relacionamento foi intensificado, aponta o executivo.
Ele destacou o potencial da união, destacando que as duas companhias são fortes no ramo de aviação regional – que, grosso modo, usa aeronaves menores e atende também aeroportos de menor porte pelo interior do país – e possuem frotas similares. "Agora podemos fazer coisas que não poderíamos sem eles e eles sem nós. Temos rotas complementares", comemorou. "Queremos alinhar baixo custo com alto serviço. E vamos focar em regiões de menor capilaridade, destinos mais regionais", destacou Caprioli.
O presidente da Trip admitiu, no entanto, que existe um problema a ser equacionado: as rotas sobrepostas. "Temos um 'overlap', ou seja, uma sobreposição em 15% das 96 rotas. Nao é muito. E não é preocupante", declarou. "Vamos fazer um trabalho qualificado e técnico sobre a fusão", acrescentou Caprioli.
Os empresários deram, no entanto, algumas pistas de destinos nos quais estão de olho. "Nordeste, Sul e Minas Gerais estão se destacando em demanda, como, por exemplo, Caxias do Sul, Cascavel, Macaé, entre outros", disse Janot.
Os executivos explicaram que a TAM possuía uma opção de compra das ações de Trip, mas que o negócio não evoluiu. "Houve possibilidade de subscrição, mas, desde janeiro, a TAM não tem mais exclusividade de negociação com a Trip", ressaltou Renan Chieppe. Há uma semana, a Trip Participações, das famílias Caprioli e Chieppe, concluiu a recompra das ações da empresa que pertenciam à australiana Skywest.
No tocante ao acordo de compartilhamento de assentos que atualmente a companhia mantém com a maior companhia aérea brasileira, eles serão mantidos. "Vamos manter todos os nossos acordos até que uma avaliação apurada seja feita", disse o presidente da Trip.
Veja nota na íntegra:
"David Neeleman, presidente do Conselho da Azul Linhas Aéreas Brasileiras, a terceira maior companhia aérea do Brasil, juntamente com Renan Chieppe e José Mário Caprioli, respectivamente presidente do Conselho e presidente-executivo da Trip Linhas Aéreas, uma força na aviação regional da América do Sul, anunciam hoje a assinatura de um acordo de investimento visando combinar as duas empresas.
Com o acordo, foi criada uma nova holding controladora, a Azul Trip S.A., que terá como presidente do Conselho de Administração David Neeleman. Com o objetivo de coordenar a integração das duas aéreas, haverá na holding um comitê, presidido por José Mario Caprioli.
Se aprovada, a associação confere musculatura para a terceira empresa da aviação brasileira se consolidar no mercado brasileiro, fazendo valer a sua reputação de companhia aérea que alia competitividade com o mais alto padrão de serviços do País. A nova empresa demonstra números expressivos: juntas, atendem 15% do mercado doméstico; somam uma frota de 112 aeronaves – 62 jatos Embraer e 50 turboélices ATR; operam mais de 837 voos diários – nada menos do que 29% de todas as decolagens realizadas a cada dia no Brasil e 316 rotas, totalizando 96 cidades brasileiras servidas. O grupo de colaboradores chega a 8.700 pessoas. Já ao final deste ano, a frota combinada deverá passar o impressionante número de 120 aeronaves.
“A Trip é uma empresa notável, que teve um crescimento vigoroso nos últimos anos até chegar à posição que ocupa como uma das maiores companhias regionais da América do Sul. Estamos muito felizes em ter no Conselho de Administração de nossa nova controladora, Azul Trip S.A, José Mario Caprioli, Renan Chieppe e Décio Chieppe. Azul e Trip têm em comum, além da frota de jatos Embraer e turboélices ATR, muitos outros pontos importantes, tais como os valores e o genuíno desejo de encantar os Clientes. Juntos, formaremos um grupo com possibilidades ainda maiores de continuar prestando serviços de transporte aéreo cada vez mais acessíveis e de alta qualidade”, afirma David Neeleman, fundador e presidente do Conselho da Azul.
“Enxergamos na Azul uma parceira que tem os mesmos ideais e visão de negócios. Como nós, a Azul é uma empresa com foco em segurança, qualidade no atendimento, ótima imagem de marca e que vem crescendo de forma vigorosa e responsável nos últimos anos. Buscaremos disseminar as melhores práticas entre as empresas, visando ampliar nossa competitividade no mercado, mantendo o DNA de alto serviço de ambas”, explica José Mário Caprioli, presidente-executivo da Trip.
Tanto a Trip como a Azul, bem como suas respectivas divisões de carga, Trip Cargo e Azul Cargo, que igualmente vêm tendo um acelerado crescimento nos últimos meses, continuarão operando suas frotas, equipes e marcas de forma independente, até a aprovação da transação pelas autoridades que regulam o mercado e o setor aéreo no Brasil."
Nenhum comentário:
Postar um comentário