Além de causar cegueira temporária e outros danos à visão dos pilotos, os raios podem distraí-los, aumentando as chances de um acidente. O chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro José Pompeu dos Magalhães Brasil Filho, não descarta que isso possa ser o motivo da queda de uma aeronave.
"A aproximação para pouso e a decolagem são as fases mais críticas de voo. O piloto tem de estar com a atenção totalmente voltada para esses procedimentos, pois qualquer distração coloca em risco aquela operação", afirma o brigadeiro.
Segundo o Cenipa, os delitos foram registrados em 12 aeroportos do País. Na avaliação do órgão, o número de ocorrências, no entanto, é muito maior, pois nem todos os pilotos relatam às autoridades.
No Aeroporto do Galeão, no Rio, já há relatos de passageiros sobre o incidente, embora ainda não haja nenhum registro oficial. Desde novembro do ano passado, quando começou a viajar regularmente para Manaus, o arquiteto Rodrigo Mathias, de 26 anos, conta que já viu três vezes o laser verde sendo apontado para o avião durante decolagens e pousos na capital fluminense.
"Aconteceu à noite, quando o avião não estava voando muito alto. Dá para ver um ponto luminoso verde no chão. Como a pessoa fica manipulando o feixe, quando ele te atinge, ofusca a visão." O passageiro conseguiu identificar a origem dos raios: bairros da zona norte da capital fluminense e municípios da região metropolitana.
A prática é crime e a punição prevista no Código Penal é de detenção de 2 a 5 anos. Em um dos casos ocorridos no ano passado, um piloto avisou imediatamente a torre do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Uma unidade da polícia foi acionada e enviou um helicóptero, que identificou a origem do laser e informou uma viatura.
Ao chegar ao local, os policiais descobriram que o responsável era uma criança e levaram o pai para a delegacia.
Um alerta de voo emitido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em agosto do ano passado pede que os pilotos redobrem a atenção ao detectar a interferência de raios laser. O Cenipa orienta os tripulantes a relatar os casos e recebe denúncias de passageiros e outras pessoas por meio de seu site (www.cenipa.aer.mil.br), com garantia de anonimato.
Em fevereiro deste ano, o Senado americano aprovou, por 96 votos a 1, a inclusão de uma regra que tornaria crime apontar um laser a aeronaves no espaço aéreo do país. A emenda será incluída na lei de orçamento da Federal Aviation Administration (FAA), órgão americano que regulamenta a aviação civil.
Segundo a agência, 2010 teve 2.836 relatos de laser apontados para aviões, o que representa um aumento de 85% em comparação ao ano anterior (1.527). A evolução dos números aponta uma popularização do laser nos Estados Unidos. Em 2005, foram cerca de 300 incidentes.
Aqueles que não respeitarem esta disposição poderão ser condenados a pagar uma multa de US$ 11 mil, indicou a FAA. No final de 2009, um californiano foi o primeiro americano preso por ter apontado um feixe de laser para dois passageiros a bordo de um avião Boeing durante uma aterrissagem em Los Angeles.
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